Em 5 anos, mais de 100 voos com deportados dos Estados Unidos aterrissaram em Minas Gerais, principal destino das aeronaves
28/01/2025
Segundo a Polícia Federal, mais de 7 mil brasileiros foram deportados dos Estados Unidos desde 2020. Maioria desembarcou no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins. Lula se reúne com ministro das Relações Exteriores para discutir deportação de imigrantes
Entre 2019 e 2024, 119 aviões fretados com deportados brasileiros vindos dos Estados Unidos chegaram ao Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, segundo levantamento feito pelo g1.
Voos que chegaram em Confins
1 voo em 2019
21 voos em 2020
24 voos em 2021
42 voos em 2022
14 voos em 2023
17 voos em 2024
O aeroporto é o terminal internacional mais próximo à Região Leste de Minas Gerais, um dos maiores polos migratórios do país. (leia mais abaixo).
As deportações são feitas com base em um acordo firmado em 2017 entre os governos norte-americano e brasileiro, durante as gestões de Donald Trump e do ex-presidente Michel Temer.
O tratado prevê a deportação de brasileiros em situação irregular com recursos legais já esgotados na Justiça americana, evitando que eles permaneçam presos nos EUA.
As deportações se intensificaram a partir de 2019, quando Trump apertou o cerco contra imigrantes ilegais, e o então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, passou a permitir a entrada de aviões fretados com brasileiros expulsos dos EUA, o que não acontecia desde 2006.
No último sábado (25), pousou no aeroporto de BH o primeiro voo com deportados brasileiros desde o início do novo governo de Trump, que tomou posse no dia 20 de janeiro.
Avião da FAB chega com deportados no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte
Pedro Cunha/TV Globo
Leste de MG é região de alto fluxo migratório
A doutora em Sociologia e Ciência Política da Univale e pesquisadora de migração Sueli Siqueira explica que a Região Leste de MG é uma das que têm maior fluxo migratório em todo o Brasil.
Essa realidade começou em meados de 1964, durante a ditadura militar. Os primeiros mineiros que saíram de Governador Valadares partiram em busca de melhores condições — principalmente financeiras — nos Estados Unidos.
A pesquisadora analisa que a ida para o país norte-americano passou a ser cultural nessa região mineira. Nos EUA, os imigrantes também contam com uma rede de apoio de comunidades brasileiras que vão desde parentes a amigos e vizinhos.
"Brasil sempre foi um país que recebia estrangeiros para trabalhar aqui, mas isso muda a partir de 1964, e brasileiros começam a sair para trabalhar fora, e o primeiro destino é os EUA. Os primeiros até tiveram sucesso, nos anos 1980, ganharam dinheiro também no período de crescimento da economia americana. Hoje já não se ganha tanto dinheiro mais, mas ficou isso no imaginário popular", disse Sueli.
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Segundo a especialista, com as novas regras contra imigração nos Estados Unidos, os municípios e estados do país precisam pensar em políticas públicas que sejam eficientes para acolher os brasileiros deportados.
"O imigrante não é um criminoso. É importante falar da responsabilidade das prefeituras e do estado [para que] tenham um acolhimento de atendimento psicológico. As pessoas precisam entender como se reestrutura novamente aqui [no Brasil]. Fica difícil mesmo para eles, imagina, cinco anos trabalhando numa lógica, e de repente tudo mudar?", explicou.
A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese) informou, na manhã desta segunda-feira (27), que está trabalhando para garantir o acolhimento e o apoio às famílias brasileiras repatriadas. Segundo a pasta, as equipes providenciaram hospedagem em hotel e alimentação para os brasileiros que desembarcaram em Confins.
Em dezembro de 2024, a Sedese assinou um Protocolo de Intenções com a Organização Internacional para as Migrações (OIM) para melhorar as condições de acolhimento e assistência a migrantes e repatriados.
"Na mesma ocasião, foi lançado o Guia de Atendimento a Pessoas Migrantes nos Serviços Públicos de Minas Gerais, que orienta os municípios a oferecer uma acolhida qualificada, humanizada e intercultural, conforme previsto na Política Estadual para a População de Migrantes, Refugiados, Apátridas e Retornados", disse o governo de Minas, em nota.
Novas regras contra imigração
Ao tomar posse para um novo mandato, o presidente americano Donald Trump anunciou uma série de medidas adicionais para restringir a admissão de imigrantes – brasileiros ou de qualquer outra origem.
O texto divulgado pela Casa Branca com as prioridades do mandato cita "medidas ousadas para proteger nossa fronteira e as comunidades americanas". Entre as ações elencadas, estão:
o restabelecimento da política "Permaneça no México";
a retomada da construção do muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México;
a punição com pena de morte para imigrantes ilegais que assassinarem americanos;
o fim do asilo a quem cruza a fronteira ilegalmente;
uma grande operação de deportação de imigrantes ilegais;
o envio das Forças Armadas, incluindo a Guarda Nacional, para a área da fronteira;
e a classificação de cartéis de drogas como "organizações terroristas estrangeiras", evocando a a Lei dos Inimigos Estrangeiros, de 1798.
Trump também declarou "emergência" na fronteira entre EUA e México, o que significa a autorização do envio de militares à região.
Ainda no primeiro dia de mandato, Trump revogou cerca de 80 decretos do governo de seu antecessor, Joe Biden, referentes ao tema da imigração. Entre os decretos revogados está o que permitia a reunificação de famílias de imigrantes separadas na fronteira.
O republicano também retirou o direito automático à cidadania concedido àqueles nascidos em território norte-americano. E anunciou a suspensão da concessão de refúgios por ao menos quatro meses, além da revisão do sistema para análise desses pedidos.
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